"É consensual na sociedade em geral e na comunidade
educativa, em particular, que já não é possível pensarmos uma escola sem
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)." A afirmação pertence à
professora Jacinta Paiva, coordenadora do estudo "As Tecnologias de
Informação e Comunicação: utilização pelos professores".
Conhecer a realidade da utilização das TIC pelos docentes
portugueses, no contexto educativo e também pessoal, foi o principal objectivo
deste estudo da responsabilidade do Departamento de Avaliação Prospectiva e
Planeamento (DAPP), do Ministério da Educação, no âmbito do Programa Nónio
Século XXI. O estudo, que envolveu 19 937 professores de todos os graus de
ensino, excepto do superior, a leccionar no ano lectivo de 2001-2002, em
escolas de Portugal Continental, permite concluir que 26% dos professores
utilizam o computador na escola em interacção directa com os seus alunos.
Destes, 42% são do 1.º Ciclo, 24% do 3.º Ciclo e Secundário, 17% do 2.º Ciclo e
15% do Pré-escolar (ver gráfico). Jacinta Paiva considera que estes números
"devem fazer-nos reflectir".
"É inegável que os rácios de utilização das TIC são
baixos e que é preciso aumentar a utilização do computador na sala de aula ou
no contexto escolar, bem como melhorar a integração dessa utilização nas
diferentes disciplinas, transformando-a numa utilização mais sistemática e
planeada do que espontânea e pontual", explica a professora, salientando
as inúmeras vantagens que as TIC colocam à disposição do ensino. "Com as
TIC, abrem-se portas à concretização de um manancial de procedimentos que um
professor "clássico" conhecia mas que, sem recurso às novas
tecnologias, dificilmente conseguiria gerir e rentabilizar com proveito próprio
e dos seus alunos." Assim sendo, para o professor, e no contexto pessoal,
o uso do computador permitir-lhe-á ganhar tempo na execução de tarefas mais ou
menos rotineiras - preparar testes, elaborar fichas, fazer e tratar fotografias
digitais e imagens, trocar informação, criar bases de dados, etc. O recurso ao
computador possibilita ainda a comunicação por e-mail, a formação à distância,
a participação em fóruns, a realização de experiências conjuntas à escala
nacional e internacional, entre muitas outras actividades.
Já no contexto educativo, Jacinta Paiva refere, entre outras
vantagens, "a interacção que o professor pode estabelecer com os seus
alunos quando recorre à correcta organização da informação sob a forma de texto
ou software específico (jogos didácticos, simulações, etc.); à pesquisa on-line
dirigida; à comunicação por e-mail para tirar dúvidas; enviar ficheiros; conversar
com os encarregados de educação - há muitos que nunca aparecem na escola; à
participação à distância em experiências colaborativas; ao intercâmbio de
saberes por videoconferência, etc.". Está, portanto, aberto um sem-número de possibilidades no processo
educativo quando este é auxiliado pelas TIC. Auxílio esse que, segundo Jacinta
Paiva, deve iniciar-se o mais cedo possível. De preferência, logo no 1.º Ciclo.
E, apesar desta ser já uma realidade em muitas das escolas do Ensino Básico do
nosso país, é nos níveis mais avançados que o recurso ao computador mais se
impõe. No Ensino Secundário, por exemplo, é já frequente a troca de e-mails
entre aluno e professor para esclarecer dúvidas. Neste nível de ensino existem
até matérias que só graças ao computador podem ser postas em prática. Jacinta
Paiva dá um exemplo: "No ensino das Ciências, graças ao computador, há
simulações de experiências que não seriam possíveis num laboratório. Podemos
"mexer" nas coisas de uma forma que seria impossível ou muito difícil
de manipular na realidade", diz Jacinta Paiva, exemplificando: "Tirar
e pôr órgãos no corpo humano ou saber o que é que acontece às moléculas da água
quando um alimento é aquecido num forno microondas. Com o recurso ao
computador, podemos ver e "sentir" o que sucede".
Tudo isto é contado com algum fascínio pela professora que,
enquanto para os 1.º e 2.º Ciclos, defende que as TIC tenham um espaço próprio
(uma disciplina) em que a aprendizagem das aplicações TIC esteja sempre ligada
aos saberes das diferentes áreas ou disciplinas - o que já acontece em algumas
escolas -, já no 3.º Ciclo
e Secundário considera mais importante a transversalidade. No entanto, diz,
"neste contexto da reforma, o desejável seria fazer um "dois em
um". Ou seja, juntar a Área de Projecto com a disciplina TIC. Assim, os
miúdos poderiam desenvolver as competências TIC, mas sempre em convergência com
um projecto. É mais aliciante para os alunos utilizarem as tecnologias quando
precisam de as pôr em prática", remata a professora, para quem
"aprender no vazio não vale a pena".
in
EducareHoje
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