sábado, 4 de janeiro de 2014



É impensável uma escola sem TIC


"É consensual na sociedade em geral e na comunidade educativa, em particular, que já não é possível pensarmos uma escola sem Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)." A afirmação pertence à professora Jacinta Paiva, coordenadora do estudo "As Tecnologias de Informação e Comunicação: utilização pelos professores".

Conhecer a realidade da utilização das TIC pelos docentes portugueses, no contexto educativo e também pessoal, foi o principal objectivo deste estudo da responsabilidade do Departamento de Avaliação Prospectiva e Planeamento (DAPP), do Ministério da Educação, no âmbito do Programa Nónio Século XXI. O estudo, que envolveu 19 937 professores de todos os graus de ensino, excepto do superior, a leccionar no ano lectivo de 2001-2002, em escolas de Portugal Continental, permite concluir que 26% dos professores utilizam o computador na escola em interacção directa com os seus alunos. Destes, 42% são do 1.º Ciclo, 24% do 3.º Ciclo e Secundário, 17% do 2.º Ciclo e 15% do Pré-escolar (ver gráfico). Jacinta Paiva considera que estes números "devem fazer-nos reflectir".

"É inegável que os rácios de utilização das TIC são baixos e que é preciso aumentar a utilização do computador na sala de aula ou no contexto escolar, bem como melhorar a integração dessa utilização nas diferentes disciplinas, transformando-a numa utilização mais sistemática e planeada do que espontânea e pontual", explica a professora, salientando as inúmeras vantagens que as TIC colocam à disposição do ensino. "Com as TIC, abrem-se portas à concretização de um manancial de procedimentos que um professor "clássico" conhecia mas que, sem recurso às novas tecnologias, dificilmente conseguiria gerir e rentabilizar com proveito próprio e dos seus alunos." Assim sendo, para o professor, e no contexto pessoal, o uso do computador permitir-lhe-á ganhar tempo na execução de tarefas mais ou menos rotineiras - preparar testes, elaborar fichas, fazer e tratar fotografias digitais e imagens, trocar informação, criar bases de dados, etc. O recurso ao computador possibilita ainda a comunicação por e-mail, a formação à distância, a participação em fóruns, a realização de experiências conjuntas à escala nacional e internacional, entre muitas outras actividades.

Já no contexto educativo, Jacinta Paiva refere, entre outras vantagens, "a interacção que o professor pode estabelecer com os seus alunos quando recorre à correcta organização da informação sob a forma de texto ou software específico (jogos didácticos, simulações, etc.); à pesquisa on-line dirigida; à comunicação por e-mail para tirar dúvidas; enviar ficheiros; conversar com os encarregados de educação - há muitos que nunca aparecem na escola; à participação à distância em experiências colaborativas; ao intercâmbio de saberes por videoconferência, etc.". Está, portanto, aberto um sem-número de possibilidades no processo educativo quando este é auxiliado pelas TIC. Auxílio esse que, segundo Jacinta Paiva, deve iniciar-se o mais cedo possível. De preferência, logo no 1.º Ciclo. E, apesar desta ser já uma realidade em muitas das escolas do Ensino Básico do nosso país, é nos níveis mais avançados que o recurso ao computador mais se impõe. No Ensino Secundário, por exemplo, é já frequente a troca de e-mails entre aluno e professor para esclarecer dúvidas. Neste nível de ensino existem até matérias que só graças ao computador podem ser postas em prática. Jacinta Paiva dá um exemplo: "No ensino das Ciências, graças ao computador, há simulações de experiências que não seriam possíveis num laboratório. Podemos "mexer" nas coisas de uma forma que seria impossível ou muito difícil de manipular na realidade", diz Jacinta Paiva, exemplificando: "Tirar e pôr órgãos no corpo humano ou saber o que é que acontece às moléculas da água quando um alimento é aquecido num forno microondas. Com o recurso ao computador, podemos ver e "sentir" o que sucede".

Tudo isto é contado com algum fascínio pela professora que, enquanto para os 1.º e 2.º Ciclos, defende que as TIC tenham um espaço próprio (uma disciplina) em que a aprendizagem das aplicações TIC esteja sempre ligada aos saberes das diferentes áreas ou disciplinas - o que já acontece em algumas escolas -, já no 3.º Ciclo e Secundário considera mais importante a transversalidade. No entanto, diz, "neste contexto da reforma, o desejável seria fazer um "dois em um". Ou seja, juntar a Área de Projecto com a disciplina TIC. Assim, os miúdos poderiam desenvolver as competências TIC, mas sempre em convergência com um projecto. É mais aliciante para os alunos utilizarem as tecnologias quando precisam de as pôr em prática", remata a professora, para quem "aprender no vazio não vale a pena".

in EducareHoje


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